só eu entendi errado?

todo mundo criticando negativamente a “carta” do luciano huck em tudo quanto é blog… e acho que só eu entendi diferente..

sera q a carta foi veiculada em um canal errado? sera q o target é outro?

vou explicar o porque… IMHO:

o luciano huck é um dos nomes mais lembrados e um dos maiores influenciadores da massa, tanto que praticamente toda campanha de massa envolve a imagem dele. desde o guarana da schincariol até o processadores intel na campanha de natal

ele nao esta “se achando” nada, pelo contrario, ele enquanto influenciador de massa esta tentando conscientizar de forma textual o problema que TODOS nós vivemos… nao achei que foi arrogante da forma que estao dizendo… sejamos sinceros! quem aqui nao reclama do país? infelizmente há grande diferença social no Brasil, mas nem é esse o ponto que quero tomar

e te falo mais, garanto que muita gente que está criticando é fã de gente mto mais arrogante

sera q se ele fosse o elton john pedindo pra parar a internet ou o valista do oasis dizendo que é melhor q beatles ou o michael jackson pedindo 43902 toalhas brancas em seu show seria diferente? Nao sei.

btw, a carta:

Pensamentos quase póstumos

Publicado no jornal Folha de São Paulo, na sessão “Opinião”

por LUCIANO HUCK


Pago todos os impostos. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa


LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do “Jornal Nacional” de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.

Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.

Por quê? Por causa de um relógio.

Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.

Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.

Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.

Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.

Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.

Onde está a polícia? Onde está a “Elite da Tropa”? Quem sabe até a “Tropa de Elite”! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.

Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.

Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase “infantis” para uma sociedade moderna e justa.

De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.

Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.

Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de “extraterrestres” fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?

Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no “Roda Vida” da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, “Tropa de Elite” é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.

Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: “Cansei”. O Lobão canta: “Peidei”.

Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.

Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.

Isso não está certo.


LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa “Caldeirão do Huck”, na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias.

2 thoughts on “só eu entendi errado?

  1. Caroleta Marreta says:

    Edu, não é que vc entendeu errado. Cada um entende de um jeito, de acordo com seus filtros sociais. Vc analisou a carta do Huck apenas sob a ótica marketeira. E não é preciso ser marketeiro para entender isso tudo que vc falou. É claro que ele quis usar sua imagem para alertar as autoridades, para chamar a atenção para o problema da violência, etc, etc. Afinal ele é uma pessoa pública e o objetivo de sua carta, por ter sido publicada em um jornal de grande circulação, é atingir a massa. Tudo isso é evidente. Como eu disse, fazendo isso, ele se mostra preocupado com os rumos da sociedade e se promove como um quase-mártir da sociedade.

    E o problema não é a pretensão dele em achar que seria homenageado no caderno de cultura. O problema sociológico por trás da carta é a luta de classes, é essa desigualdade eterna que alimenta a violência e que ele, hipocritamente, não cita. A doença da desigualdade social é que gera esse tipo de comportamentos que ele considera anormais. Ele diz ter pena dos coitados em cima da moto com o 38 na mão, mas ele na verdade tem muito mais pena dele, que paga os impostos e mantém uma ONG que ajuda os pobres e não é reconhecido e nem deixado em paz, apesar de todo o seu bom coração.

    Ele não vai fazer a revolução com aquela carta. O mundo precisa de ações efetivas, não paliativas. É o que eu disse no e-mail: é a indústria da responsabilidade social, que manipula (com a ajuda da mídia) e promete salvar o mundo. Mas só torna o abismo maior. O intangível, em nossos tempos digitais, é a informação. É preciso muito cuidado ao usá-la. É uma arma tão perigosa quanto o 38 na testa do Huck. Não podemos nos deixar manipular!

    Hasta la revolución simpre! Hehehe!

    PS: Não pense que estou cismando com vc! É que gosto de pensar sobre temas polêmicos e, pelo visto, vc tb! 🙂

    bjs
    Carol Marra

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